Olá amigos!
Neste texto, vou dizer a respeito das principais diferenças entre a psicologia e a auto-ajuda. O objetivo é mostrar as semelhanças e divergências, bem como mostrar que a auto-ajuda não é ruim como normalmente é pintada durante a graduação em psicologia. Por outro lado, também é muito importante notar – para quem não faz ou fez a faculdade de psicologia – que a psicologia é realmente muito mais do que auto-ajuda.
Definição de Psicologia
Em nosso Curso de Psicologia Online Grátis, nós temos um texto sobre “O que é psicologia?” Em resumo, podemos dizer que a psicologia deve ser pensada no plural. Ao invés de ser a psicologia, temos que falar de as psicologias. Em dois sentidos principais:
– As psicologia como áreas de atuação: psicologia clínica, psicologia hospitalar, psicologia organizacional, social, comunitário, do esporte, etc;
– As psicologias como abordagens ou teorias: a psicologia da gestalt, a psicologia comportamental, a psicologia analítica, a psicologia cognitiva, a psicologia do desenvolvimento, etc;
O que quero salientar aqui é que a psicologia é sim uma área de estudos complexa, multifacetada, com teorias que ora se aproximam da abstração da filosofia, ora se beneficia dos resultados da estatística, ora da anatomia e neuroanatomia, ora da antropologia e sociologia e por ai vai.
No começo da graduação é comum estudarmos a diferença entre a ciência e o senso comum. Para saber mais, veja aqui – Psicologia – Ciência e Senso Comum – Algumas questões
Por isso, é de certa forma comum os psicólogos fazerem pouco caso da chamada literatura de Auto-Ajuda. Para ficar mais claro, vamos passar à definição de auto-ajuda.
Definição de Auto-Ajuda
Definir auto-ajuda não é tão simples quanto parece à primeira vista. Olhando um acervo de uma livraria qualquer, encontraremos diversos tipos de livros diferentes dentro desta sessão e, curiosamente, também livros sobre psicologia. (Normalmente, quem faz esta separação não conhece muito bem as duas seções). Então, poderemos encontrar livros que prometem tudo: mudança total da personalidade, mudança de comportamentos, conseguir atingir objetivos específicos, encontrar o amor ideal, ganhar mais dinheiro, fórmulas secretas da felicidade e por aí vai.
Se pensarmos na própria palava “auto-ajuda” veremos que a ideia é que o livro virá a fazer com que a pessoa mesma possa se ajudar, claro, depois de comprar o livro. Na faculdade, tive um professor que dizia que se a auto-ajuda fosse eficaz, bastaria um único livro, pois ele já ajudaria tanto que não precisaria mais de outros. Porém, o mais comum é encontrarmos uma série livros quando o primeiro faz sucesso. Então temos: Pai Rico e Pai Pobre. Depois, Filho Rico, Filho Vencedor. Em seguida, Aposentado Jovem e Rico, Pai Rico e Pai Pobre para Jovens e a lista continua.
O que quero dizer é que existe um mercado literário que visa o lucro. Embora possa passar conhecimentos e técnicas realmente úteis para a mudança, às vezes de tanto querer vender dá a sensação de um engodo, de um engano, de uma farsa.
Diferença entre Psicologia e Auto-Ajuda
Como a auto-ajuda é uma área de difícil definição, indo de livros que falam sobre psicologia para leigos até livros místicos, esotéricos, com fórmulas mágicas é um pouquinho complicado demarcar um limite a separar uma área da outra. Pois, a auto-ajuda acaba incorporando conhecimentos e práticas da psicologia em seu texto – para ficar mais científica.
No Código de Ética da Psicologia, podemos ler que o psicólogo apenas usará técnicas e procedimentos que tenham comprovação científica. Tudo o que ficar de fora da ciência, não deve ser, portanto, utilizado. Chegamos então a uma primeira distinção.
Mas será que os psicólogos não podem se beneficiar do senso comum? Da psicologia de auto-ajuda?
Quando eu me formei, em 2006, viajei para Lorena, uma cidade no interior de São Paulo com minha esposa – para que ela fizesse o vestibular da USP. Enquanto estava esperando ela concluir a prova, conheci um rapaz e sua mãe em uma cafeteria. Começamos a conversar sobre profissões, vestibular, mercado de trabalho e o rapaz, que era formado em química, depois de eu contar que era formado em psicologia perguntou se eu assistia a Ana Maria Braga para aprender sobre psicologia.
Aquela pergunta foi bastante espantosa para mim na hora e, sendo recém formado, tendo saído de uma graduação como disse complexa, com teorias abstratas e profundas, ouvir que eu apenas precisava assistir a um programa de TV para aprender mais foi até ofensivo. Hoje levo esta cena na brincadeira. Não assisto ao programa dela, mas não vejo mal nenhum em conseguir me aproximar de uma forma mais simples de entender o mundo, as relações entre as pessoas, os sentimentos e comportamentos.
Dizendo de outra forma, teve uma época que o livro da moda era O Segredo. Creio que pelo menos uma centena de meus pacientes o tenha lido e comentado sobre no consultório. Resultado: tive que ler o livro. Não para aprender mais sobre psicologia, mas para poder me aproximar do universo do paciente, entender o que o livro dizia e porque ele tinha marcado tanto, tanta gente.
Nesse sentido, não utilizo as técnicas descritas no livro em minha prática no consultório, claro. Porém, esta é uma forma de poder conversar com o paciente que concorda com o livro. Sigo aqui a ideia de Victor Dias, em seu livro Psicodrama: teoria e prática, no qual ele diz:
“Pois na medida em que o terapeuta entra em contato íntimo com a experiência de seu cliente, ele acaba por viver em poucos anos muitas vidas. Costumo dizer, então, em tom de brincadeira, mas que sinto com um fundo de verdade, que atualmente devo ter mais ou menos 150 anos.” Este trecho é citado no texto do Bruno, “Porquê as pessoas dizem que psicólogo é louco?
Em outras palavras, vivemos no consultório em contato com pessoas extremamente diferentes umas das outras e uma das formas que temos que aprender a criar, enquanto psicólogos clínicos, é a empatia. Não quer dizer que se atendermos um médico teremos que estudar medicina e ao atender um diplomata teremos que estudar Relações Internacionais. Mas, é necessário ter uma visão apurada do horizonte do paciente. E, na medida em que a auto-ajuda é um fenômeno de mercado e de público, creio que ser interessante conhecer um pouco da área.
Mas que fique claro o que disse antes, a psicologia (ou as psicologias) têm uma dimensão teórica infinitamente mais rica e profunda do que a auto-ajuda. Por isso, há entre os psicólogos o desprestígio da auto-ajuda como se fosse um lixo. Por outro lado, manter esta postura distanciada e na torre de marfim da academia universitária não ajuda em nada.
Infelizmente é muito comum vermos Doutores viverem como se fossem superiores. O seu conhecimento seria tão superior e inefável e inatingível que ficaria apenas o desprezo pelo simples mortal que acredita em superstições, indo da auto-ajuda à religião institucionalizada. Se esta pessoa vai dar aulas, será o professor que sabe muito mas não sabe passar. Nunca estudou o mínimo de retórica ou didática. Se for um psicólogo clínico, creio que não terá sucesso, pois embora a relação de transferência entre o psicólogo e o paciente possa ser a partir do (suposto) saber, a transferência se dá por outros motivos, entre eles a empatia.
Enfim, embora a psicologia realmente seja muito superior à auto-ajuda, existem sim técnicas ou formas de compreensão de mundo da auto-ajuda (assim como existem técnicas em outras áreas do conhecimento humano passadas através da arte, da literatura, de desenhos em quadrinho, video-games, etc) que são sim úteis. Não creio ser positiva esta perspectiva de que a auto-ajuda é um lixo descartável.
A questão que fica ainda é: será possível a alguém se auto-ajudar?
A auto-ajuda como processo terapêutico
O objetivo de todo processo terapêutico é o autoconhecimento. A ideia de “Conheça-se a si mesmo”, do cuidado de si como salienta Foucault, é antigo. Com a psicologia clínica descobriu-se que os nossos sintomas, os nossos problemas, o nosso sofrimento surgem e crescem a partir de fontes inconscientes. Quer dizer, causas desconhecidas. (Se se quer pensar de outra perspectiva, podemos dizer que as causas podem ser objetivas, através de relações do meio ambiente, mas que também são desconhecidas ou não controladas ainda pelo organismo).
Se o objetivo da terapia é o autoconhecimento, o processo da terapia leva necessariamente a que o paciente possa se conhecer. E, nesse sentido, quando há a alta? Quando o paciente pode deixar de ir ao consultório? Parar de fazer as sessões?
A resposta – embora haja muita controvérsia entre os teóricos – é, na minha opinião, a partir do momento em que o paciente tem autonomia para ver, analisar, compreender e modificar seus próprios sintomas. Autonomia, em poucas palavras, quer dizer poder sobre si mesmo. Podemos entender como a capacidade para que o autoconhecimento se dê sem o intermédio de outra pessoa, no caso, o psicólogo.
Então, podemos concluir, que o grande objetivo da clínica (se reformularmos a ideia geral sobre o tema) é que o paciente possa se auto-ajudar. Que ele mesmo se ajude sem a necessidade da presença de seu psicólogo. Este seria também o objetivo da auto-ajuda, e, por isso mesmo, é o que a faz vender milhões de livros. A oferta fácil e rápida e prática de que a mudança pode ser feita.
Embora em geral a auto-ajuda não seja prejudicial, ela pode ser falsa. Prometer algo e não cumprir. Quantas pessoas não leem livros e livros e livros de auto-ajuda sem que a mudança realmente ocorra? Mas algo pode sim mudar nesse processo de leitura…
Mas para realmente mudar, e principalmente em casos mais graves, a ajuda inicial do psicólogo é fundamental. Não só porque os conhecimentos e técnicas são fundamentadas, mas porque a pessoa no momento não consegue ela mesma fazer a própria mudança ou até enxergar aonde está o problema. Contudo, como disse, com o tempo todo o objetivo da clínica é fazer com a pessoa possa se auto-ajudar, se autoconhecer sozinha.
Ola Felipe, em alguns momentos ou fases da vida podemos até conseguir fazer algumas transformações sozinhos, mas o verdadeiro processo de auto transformação, requer um mergulho na alma e para esta jornada nada melhor que ter um parceiro(a) da psicologia para nos orientar e compartilhar
Olá Aparecida!
É verdade!
Porém, com o processo da terapia é possível que em alguns meses (em alguns casos, anos) a pessoa consiga se conduzir sozinha.
No doutorado eu estudo o Livro Vermelho de Jung, que é um livro maravilhoso como – em um processo de desorientação – a arte, a escrita, a pintura, a imaginação (estando sozinho) substitui a presença do diálogo terapêutico. Mas tudo tem que ser avaliado individualmente, não é mesmo?
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Oi Felipe de Souza,sou seu leitor e cada vez mais admiro suas produções. Muito boas.Parabéns!
Olá Valdir!
Obrigado!
Realmente, fico muito feliz com o seu comentário!
Obrigado mesmo!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Cara,gostei do texto.Muito bom.
Olá, Dr. Felipe, foi a primeira vez que visitei sua pagina, e gostei muito, parabens pela sua comunicação. Obrigada.
Olá Ana!
Obrigado! Fico muito feliz que tenha gostado do nosso site!
Se puder nos ajudar, divulgando para amigos e familiares que gostem de psicologia, agradeço!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
o assunto foi de muito proveito!!! amo psicologia…
Olá Gedeao!
Fico feliz que tenha gostado do texto!
Volte sempre ao site! São mais de 500 textos grátis!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá,Felipe
Gostei muito do site,a psicologia e uma assunto que me interessa muito,uma vez que permite a compreensão sobre o ser humano e as razões pelas quais age e também por ser a mente do ser humano um mundo de infinitas possibilidades.
A respeito do tema auto ajuda,o problema não e ele e sim como cada lida consigo mesma.
Comigo nao deu certo, embora tenha me ajudado os problemas,as origens,os comportamentos e as razões não consegui “me curar” ,pois,devido a características da minha personalidade de alguma maneira inconsciente não queria me livrar daquilo.Daí os livros terem sido ineficazes,uma vez que a ideologia,”as ferramentas” usadas(sobre comportamento humano)são as mesmas.
Acredito que pra outras pessoas que lidam de outra maneira,tenha produzido efeito.
Cheguei a um ponto que foi inevitável procurar ajuda,a partir daí o conhecimento adquirido foi de grande utilidade,então não foi de todo perdido.
Olá Edmar,
Então, a questão da autoajuda depende muito da pessoa, você tem razão, e também do momento e de que se trata.
Por exemplo, existe um livro ótimo chamado “Desperte o seu gigante interior” e “Poder sem limites”. Li ambos antes de fazer vestibular e algumas técnicas me ajudaram a passar. Ou seja, para comportamentos mais específicos, pode ser excelente. Porém, para a nossa profundidade da psique, para lidar com problemas existenciais, sintomas constantes, não é suficiente.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Felipe de Souza!
Puxa, estou gostando muito da sua página. Vc tirou minhas dúvidas com sabedoria e humildade sobre diferença entre psicologia e auto-ajuda.
Sou estudante de psicologia, curso o segundo período e são muitas dúvidas e curiosidades.
Fico meio sem direção pescando coisas dali, de cá…sempre com muito cuidado, claro! E um dos meus medos era estar confundindo auto-ajuda com psicologia. fico de perguntar aos professores, porém, é tudo muito corrido no término das aulas. Vc me deu uma luz. Obrigada ♥
Olá Elen,
Fico feliz que o texto tenha lhe ajudado a estabelecer a diferença entre psicologia e autoajuda.
O que nos confunde muito também é o fato de irmos em livrarias e os dois ramos estarem na mesma seção, rsrs.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Gostei muito do seu site. Parabéns!
Olá Norma!
Obrigado!
Fico muito feliz que tenha gostado do site!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Felipe, meus parabéns, li muitos dos seus artigos hoje. E é com imensa satisfação que digo
o quanto aprendi com eles hoje.
Muito obrigado!
E mais uma vez, parabéns.
Olá Marcio!
Obrigado! Fico muito contente que tenha sido útil para você.
Será um prazer sempre contar com sua presença por aqui.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá Felipe!
Fiquei muito feliz ao descobrir sua página.Estou cursando o primeiro período de psicologia mas já passei a página pra todos os colegas da turma,tenho certeza que ela nos ajudará muito.Agradeço pela sua paciência de conseguir com muita clareza acabar com inúmeras dúvidas nossas.
Olá Jucilene,
O nosso projeto desde o começo foi oferecer tudo sobre psicologia. É um projeto grandioso, mas é o que nos guia a continuar oferecendo sempre os melhores textos em língua portuguesa!
Agradeço muitíssimo a divulgação para seus amigos!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Ola Felipe, gosto muito dos textos que voçê posta aqui, são muito interessantes…Parabéns! gostaria de pedir sua opnião a respeito da terapia, sinto que necessito fazer uma terapia para melhor compreensao do meu comportamento, pois tenho habilidades que nao consigo por em pratica, apenas começo e nao termino, alem de me apegar muito ao passado, porem nao posso pagar as sessoes de psiclogo, alem de achar dificil encontrar um competente, digo saber se é competente ou se nao estou perdendo tempo como ja aconteceu por tres vezes; de acordo com sua experiencia, como posso descobrir se estou nas maos certas se caso poder fazer a terapia? voçe tem alguma dica de como se livrar dos pensamentos negativos? abraços…
Olá Erika,
Obrigado!
Fico muito feliz com a sua avaliação!
Então, sobre a terapia eu entendo bem o que você está dizendo. Tirando todas as questões da técnica, você pode passar a pensar a terapia como uma relação entre duas pessoas. Assim como podemos nos dar bem e nos sentir à vontade com uma pessoa e não com outra, acontece na terapia. Às vezes um psicólogo ou psicóloga provoca uma instantânea afinidade, enquanto que em outros casos isto nunca vai ocorrer, ok?
Mas com relação ao que você quer (desenvolver competência, ter resultados) talvez o processo de Coaching seja mais adequado do que a terapia. A terapia vai voltar para o passado, enquanto que o Coaching tem o foco no futuro.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Oi Felipe!
Que interessante o seu site! Parabéns pela boa vontade e pelo material que nos oferece. Fico agradecida. Este artigo apontando as diferenças ficou muito bom! Gostaria de sugerir, se não se incomodar, que você colocasse material variado sobre RH, Seleção de Pessoal, o que acha? Um grande abraço!
Olá Edna!
Obrigado!
Nós temos um Curso sobre entrevistas de emprego – veja aqui – Como se comportar em uma entrevista de emprego
E estamos sempre atualizando o site com novos textos de todas as áreas da psicologia, ok?
Agradeço a sugestão!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Olá…passei por aqui atrás de leitura sobre psicologia e parei na tua página..e que será muito utilizada por mim nesta jornada que tenho pelo frente..Arte e psicologia é minha busca! Sucesso…
Olá Cátia!
Fico muito feliz que tenha gostado de nosso site!
Será sempre um prazer contar com sua participação por aqui!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Muito bom o Texto Felipe…..
Nunca gostei da forma como os professores sombam o termo “auto-ajuda”, com muita pompa e soberba!
Obrigado.
Att,
Samuel Resende
Boa dia a todos. Felipe há tempos li um livro do Carl Gustav Jung chamado “O Desenvolvimento da Personalidade” sensacional. Também temos outro livro do Napoleon Hill “Quem Pensa Enriquece” e me parece ser de autoajuda, mas é muito bom, aliás é o único que presta. Esse livro em particular eu recomendo, pois não tem fórmulas mirabolantes
Não leio muitos livros de auto-ajuda, mas sempre me incomodou essa postura de que auto-ajuda não serve pra nada. Seu texto foi excelente, colocando os prós e contras desse segmento e sempre em linguagem que podemos acompanhar. Parabéns!