Lev Semenovitch Vygotsky (1896 -1934) foi um pesquisador e professor contemporâneo de Piaget. Estudou Direito, Filosofia e História. Entre os anos de 1924 e 1934, Vygotsky iniciou suas pesquisas no campo da Psicologia e criou sua teoria histórico-cultural dos fenômenos psicológicos. O psicólogo bielo-russo visava alcançar a origem do desenvolvimento dos processos psicológicos durante a história da espécie humana. Esta abordagem é denominada Abordagem Genética por embasar-se no estudo do modo de como ocorre  o desenvolvimento do homem através da cultura, do ambiente no qual se encontra, e do seu convívio social.

Vygotsky foi o primeiro estudioso a ressaltar a importância do ambiente durante desenvolvimento da criança e durante a formação da mente humana. Considerava que as origens da vida consciente e do pensamento abstrato encontravam-se na interação do organismo com as condições da vida social e com as formas histórico-sociais de vida humana. Destarte, Vygotsky propunha que se deve buscar analisar o reflexo do mundo exterior no mundo interior do sujeito, partindo da interação do sujeito com a realidade. Sua metodologia sempre ligava teoria à prática e foi de suma importância para a Psicologia Cognitiva, haja vista que complementou a teoria das etapas do desenvolvimento intelectual, que até esse momento histórico tinham sido entendidas somente por Piaget.

O psicólogo bielorrusso enfatizou a importância da participação do aluno no processo de aprendizagem, já que a participação mostra a importância da inserção social do indivíduo em suas várias fases de crescimento. Para que ocorra a efetiva maturação da mente, Vygotsky apontava para a necessidade do contato estreito com a comunidade.

A problemática relação existente entre desenvolvimento e educação foi um tema abordado por Vygotsky, assim como também por outros autores. A solução encontrada pelo autor para a relação entre desenvolvimento e educação foi a de que o problema deve ser visto sob dois vieses, o geral e o particular: 1) o aprendizado vem com o sujeito desde o nascimento; 2) Deste modo, pode-se notar a relação intrínseca entre aprendizado e desenvolvimento.

Partindo da educação formal, o desenvolvimento ocorre em dois níveis, isto é, no nível do real e no nível do potencial. Respectivamente, o primeiro é o nível no qual a criança se encontra quando consegue resolver os problemas que lhe foram propostos sozinha. Neste nível fica evidente o amadurecimento consolidado. O segundo nível é o potencial, ou seja, a criança só alcança uma reposta com o auxílio de outros. Este é o conceito de Zona de desenvolvimento proximal e relaciona-se à diferença entre o que a criança realizar sozinha e aquilo que é capaz de aprender a realizar com o auxílio de alguém mais experiente. Deste modo, este conceito tão importante na teoria da aprendizagem de Vygotsky, diz de tudo o que a criança tem possibilidade de adquirir, no âmbito intelectual, quando o devido suporte educacional lhe é oferecido.

Vygotsky construiu sua teoria tomando o desenvolvimento como resultado de um processo sócio-histórico, dando relevância ao papel da linguagem e da aprendizagem. A questão colocada por Vygotsky tem como centro a aquisição de conhecimento através da interação entre sujeito e meio. Isto significa que o autor concebe o desenvolvimento do ser humano como marcado por sua inserção em um grupo social e, ainda, concebe o meio como o que mediatiza a relação eu-outro social. A relação mediatizada ocorre com a possibilidade da interação com símbolos culturais, signos e objetos, ou melhor, a mediação ocorre quando o homem não tem possibilidade de acessar diretamente os objetos, e o faz através de recortes do real – operados pelos sistemas simbólicos dos quais dispõe. Assim, a construção do conhecimento se dá com a interação mediada por várias relações. O conhecimento é visto como uma mediação feita por outros sujeitos, durante o processo de ensino e aprendizagem e durante os processos de produção de instrumentos mediadores – os quais visam a realização de tarefas específicas. A mediação caracteriza, pois, a relação do homem com o mundo e com o outro-social.

O contexto social também passou a ser considerado como parte crucial para o entendimento do processo de ensino e aprendizagem e vai abarcar a cultura à qual o aluno pertence; as condições materiais do mesmo bem como as suas relações sociais. Entender as relações que ocorrem na escola faz-se necessário para se apontar as causas do fracasso escolar do aluno. Deve-se ter em mente que, entre professor e aluno, ocorre uma relação de interdependência no processo de ensino e aprendizagem e, assim, quando o aluno fracassa, o professor também fracassa. Todavia, vale notar que o aluno não é visto como somente um produto de seu contexto histórico-cultural, ele é visto como um agente ativo na criação deste contexto.

A epistemologia proposta por Vygotsky fundamentou-se de acordo com o trabalho do sociólogo Karl Marx. O autor russo entendeu o homem como resultado das relações sociais e culturais do contexto em que vive. Toda a aprendizagem do sujeito media-se pelo meio social. O conhecimento que é mediado pelo meio social auxilia a aprendizagem através do processo de apropriação do conhecimento. A apropriação do conhecimento, por sua vez, aponta para o fato de que o aluno incorpora o objeto do conhecimento e que pode operar esse objeto mentalmente. O conhecimento que foi apropriado pelo aluno passa a fazer parte de seu psiquismo de modo que o norteará em suas ações no meio social e cultural, em concordância com suas apropriações.

Este processo brevemente descrito ficou conhecido como objetivação do conhecimento. Segundo esta perspectiva, a escola tem a função de passar o conteúdo acadêmico ao aluno fazendo-o refletir sobre a organização política, econômica e social do meio no qual se encontra inserido. No momento em que a apropriação do conhecimento ocorre, há também a apropriação – por parte do aluno – do conhecimento sobre o processo histórico que constitui a sociedade. A consciência desse aluno muda e visa esse conhecimento sobre o processo histórico constituinte da sociedade e, doravante, temos como resultado a mudança do contexto social e histórico no qual o sujeito está inserido. Fica explicado, pois, a causa de termos afirmado acima que o aluno também é um agente na produção do contexto no qual se insere.

A teoria do pesquisador russo rompeu com a visão que se tinha acerca do sujeito durante o processo de ensino e aprendizagem: tanto professor quanto aluno são vistos como agentes de transformação social. Ao fracasso escolar eram relacionados outros fatores como: as relações que ocorrem dentro da sala de aula; o contexto social e histórico dos sujeitos envolvidos durante o processo de ensino e aprendizagem; o modo como a Educação é vista pelas esferas do governo; a gestão da escola.

As mudanças que ocorrem no homem são oriundas na Sociedade, na Cultura e na História. Vygotsky propõe um novo modo de compreensão da relação entre sujeito e objeto, durante o processo da construção do conhecimento, ao tomar como referência o contexto histórico-cultural. Assim, fica exposta a Teoria Histórico-cultural de Vygotsky bem como  sua visão acerca do desenvolvimento da aprendizagem.

Referências Bibliográficas:

DESLANDES, Keila. Psicologia: uma introdução a psicologia Cuiabá: EdUFMT, 2006.

Michelle Vaz é graduanda em Filosofia