1- Para a psicologia o que é paciência?
A paciência, para a psicologia, tem o mesmo sentido que para o senso comum, ou seja, é a qualidade de quem é paciente e possui resignação. A palavra surge em meados do século XIV a partir do antepositivo latim pass- também presente na origem de diversas palavras como passar, passageiro e passado. Com isso, não há um conceito específico da psicologia sobre a paciência. O termo é utilizado igual ao que utilizamos no cotidiano.
2- Qual é o poder da paciência?
A paciência é uma virtude que traz em si uma série de benefícios para o indivíduo e para a sociedade. Uma pessoa paciente é resignada, resiliente, o que significa que ela consegue suportar uma contrariedade temporária sem reagir de forma inadequada. Outra característica é que com a paciência é possível desenvolver habilidades a longo prazo, já que é necessário ser paciente para ser especialista em qualquer área, pois para ser especialista leva-se em torno de dez anos. Sem a paciência, portanto, não há possibilidade de continuar e concluir uma tarefa estipulada a longo prazo. Como diz Santo Agostinho: “a paciência é companheira da sabedoria”.
– Veja também o texto – O poder da paciência
3- Como trabalhar a paciência em nossas esperas diárias (a de um casamento, gravidez, vestibular, etc)
Existem diversas técnicas da psicologia que auxiliam no desenvolvimento da paciência.
Dizendo de um modo geral, a paciência estará presente no horizonte mental e emocional quando a pessoa souber que aquele momento presente – embora desagradável, ruim ou desinteressante para os próprios desejos – passará, será passageiro, e logo a seguir virão momentos melhores, pois todos os fenômenos são efêmeros e, necessariamente, passageiros.
A religião também elaborou em sua história práticas que permitem adquirir mais paciência. Nestas estão inclusas a meditação, os exercícios de Inácio de Loyola, as orações, as missas. Assim como na psicologia, a ideia central para a paciência – nestas práticas – é de que haverá um futuro melhor (o céu ou paraíso como recompensa) com relação ao presente nem sempre do modo como queremos.
4- Há como potencializar a paciência? Como seria?
Sim, existem diversas técnicas. Nem sempre uma determinada técnica, entretanto, é adequada para uma pessoa específica. Por exemplo, existe a técnica de olhar o presente sub specie aeternitatis, do filósofo Baruch Spinoza que consiste em ver o momento atual sob a perspectiva da eternidade. Com um longo tempo a frente, qualquer coisa acaba se tornando insignificante e, com isto, temos mais paciência.
– Saiba mais sobre esta técnica aqui – Mudar o significado – 12° forma
Com um longo espaço, também, podemos desenvolver mais paciência. Uma pessoa que vê um determinado acontecimento de uma grande distância – em seu foco mental – como se estivesse do espaço observando um momento ruim na terra, com certeza perceberá quão pequeno pode ser um evento irritante ou desagradável e deste modo a paciência surge.
O que é importante salientar é que as pessoas, embora tenham qualidades em comum, possuem sua individualidade. E, por isso, a ajuda profissional de um psicólogo ou psicóloga ajudará o indivíduo a encontrar a melhor técnica para desenvolver a paciência e outras virtudes e capacidades.
5- Por que hoje as pessoas estão tão impacientes? O que as leva a isso?
As pessoas estão hoje tão impacientes como no passado. Neste sentido, a alma ou psique humana apresenta uma constância ao longo dos séculos. A diferença em relação aos tempos atuais é que as concepções gerais indicam que tudo deve ser feito de imediato. Não fazer algo ou não atingir um objetivo no curto ou médio prazo é sinal de fraqueza, burrice, incapacidade. Com isto, é criado um sentimento de que tudo tem que ser para já, para agora. Na medida em que controlamos, cada um, uma pequena parte da realidade, ou seja, não podemos mudar ou controlar tudo o que está ao nosso redor, ansiedade, depressão tendem a aparecer, quando não aparece a impaciência aliada a sentimentos de raiva, ódio ou tédio.
6- A impaciência e a busca pelo imediato é uma característica humana desse século? Esse problema é contemporâneo?
Creio que sim. Com a Revolução Industrial o tempo passou a ser contado em segundos. Isto é um acontecimento sem precedentes. Com o tempo sendo contado em segundos, depois em microsegundos, nanosegundos e com o advento da internet, na qual uma pesquisa pode reverter respostas em 0,28 segundos, há realmente uma tendência de aumentar a impaciência. Muitas pessoas acham que um computador, tablet ou celular que demore alguns segundos para uma determinada ação é algo inútil, então, o imediato, o instantâneo é cada vez mais valorizado.
Com isto, a paciência de fazer uma pesquisa como um mestrado ou doutorado que deve ser realizada contando-se o tempo em alguns anos, torna-se algo inviável, por exemplo.
7- A falta de paciência pode ser considerada uma doença?
Não necessariamente. Cada virtude e cada vício possui uma determinada função. Para alguns, a impaciência, a pressa, a inquietação poderia até ser pensada como uma característica de personalidade positiva. Alguns trabalhos exigem este perfil. Assim, em uma seleção de recursos humanos, se a empresa deseja alguém rápido, ágil, acelerado, dificilmente a paciência, calma e a tranquilidade serão valorizados. Nem sempre um vício é ruim, assim como nem sempre uma virtude é boa. Há a necessidade de considerarmos a situação para emitirmos um julgamento de valor.
De qualquer modo, a impaciência não é uma doença mental. Mas com certeza pode ser incluída na descrição de sintomas de diversas doenças como nos transtornos de ansiedade.
8- A ansiedade e a irritação surgem a partir da falta de paciência?
A palavra ansiedade é uma má tradução da palavra angst, em alemão, traduzida para o inglês como anxiety na psicanálise de Freud. O sentido original é angústia, que, em resumo, é um profundo conflito inconsciente que se expressa em sentimentos como medo, temor, incapacidade de reação, etc. Neste sentido, a falta de paciência não surge a partir da angústia. Se tomarmos o termo ansiedade não em seu significado técnico, podemos dizer sim que a falta de paciência está relacionada com a irritação e ansiedade, se ansiedade for a vontade ou premência de que algo ocorra logo.
9- Como os jovens são atingidos hoje por essa falta de paciência? O que fazer?
A diferença entre os jovens e os adultos e idosos é que os primeiros já cresceram em um mundo superacelerado com o surgimento das tecnologias da informática, internet e telecomunicações. Evidentemente, não faz sentido lutar contra este estado de coisas já que os benefícios são maiores que os malefícios. Uma forma de contrabalancear é propor os antigos jogos e brincadeiras, esportes, atividades lúdicas e artísticas para que o tempo seja dividido entre as atividades ligadas às tecnologias e comportamentos independentes destas.
10- Os homens são mais impacientes que as mulheres? De que forma os dois vêem essa questão?
Não é possível fazer uma comparação nestes termos. As diferenças são sempre individuais e não de gênero.
11- Como as pessoas podem trabalhar a impaciência e melhorar a vida.
Ao contrário do que pode parecer a princípio, uma sensação corporal ou um determinado sentimento possui uma existência realmente fugidia, de alguns segundos ou minutos. Na medida em que podemos qualificar os sentimentos e sensações como negativos, neutros ou positivos e, sabendo de sua característica de efemeridade, podemos começar a entender os movimentos que ocorrem internamente e externamente. Em outras palavras, se algo ruim acontece, em pouco tempo, ele terá desaparecido para o nascimento de outro evento. Sendo bom ou ruim ou indiferente, cada evento não é eterno, não dura para sempre.
Podemos então passar a considerar o momento presente em sua totalidade, independente de sua qualidade emocional. Outra forma é observar o momento de uma perspectiva distanciada, como se estivéssemos no espaço ou em um avião. Assim, tudo fica pequeno e um acontecimento ruim fica bem menor. Ainda outra forma é olhar sub specie aeternitatis, sob a perspectiva da eternidade. Se algo ruim aconteceu – o que será isto daqui a cinco, dez anos? O que será isto na eternidade?
Curiosamente, o paciente é aquele que tem paciência ou aquele que busca tratamento médico ou psicológico, quando, na verdade, o paciente em busca de tratamento deve ser justamente o seu oposto, o impaciente. Para alguns casos, portanto, somente a terapia psicológica pode auxiliar no desenvolvimento da calma, da tranquilidade, da paciência.
Entrevista concedida ao Jornal de Opinião, da Rede Catedral, pelo Psicólogo Felipe de Souza
É muito bom saber que existem pessoas assim,pois não tenho nenhuma paciência,sou uma pessoa arrogante,não sei ouvir,vivo com depressão,triste e com raiva de tudo…Gostaria de mudar ,tirar essa revolta de dentro de mim.
Olá Elaine,
Existem muitas formas de mudarmos. A psicologia é uma delas.
Porém, tudo começa com o seu desejo de mudar!
Comece a procurar agora mesmo e você conseguirá!