O comportamentalismo ou behaviorismo foi alvo de muitas críticas, desde o seu surgimento até os dias atuais. O fato de uma abordagem da psicologia ser criticada, não constitui um problema. Toda teoria pode e deve ser criticada.
Exporemos neste texto, três principais críticas à psicologia comportamental. O próprio Skinner, que foi o psicólogo comportamental mais importante, disse que muitas críticas se devem a mal entendidos. Vejamos as críticas e as respostas dadas à elas.
Crítica 1: Uma ciência do comportamento é impossível
Muitos que levantam esta objeção afirmam que os humanos tem vontade própria; assim, suas ações não podem ser previstas ou controladas. Entramos aqui em um problema que pode ser resumida da seguinte forma:
Os seres humanos apresentam determinados comportamentos. Estes comportamentos são extremamente complexos. O fato de serem extremamente complexos, variados e apresentarem mudanças muito rápidas impediria a elaboração de uma ciência do comportamento humano.
Além da complexidade do comportamento, o ser humano tem vontade própria, ou seja, pode escolher se faz ou não faz alguma coisa, pode escolher comportar-se deste modo ou daquele.
Entretanto, é possível demonstrar que algumas respostas, alguns comportamentos são controladas por fatores do ambiente.
Vários e vários exemplos são possíveis:
Uma pessoa só fala em voz alta quando há alguém ao seu redor para lhe ouvir.
O aluno levanta quando o professor diz: a aula acabou.
Quando o tempo está nublado, a probabilidade de sairmos com um guarda-chuva é muito maior do que em um dia de sol.
Estas demonstrações indicam que uma ciência do comportamento pode ser possível, embora seu alcance apropriado permaneça sujeito a debate.
Crítica 2: Uma ciência do comportamento é indesejável
Os críticos da ciência do comportamento a julgaram indesejável em dois pontos:
1) uma ciência do comportamento seria indesejável por não ser ética;
2) uma ciência do comportamento seria indesejável por poder ser usada para oprimir as pessoas;
No que diz respeito a ética, é importante reconhecer que todas as ciências são eticamente neutras. A ciência não é uma fonte direta de princípios éticos; a prática científica não oferece nenhuma orientação para determinar o que seja certo ou bom.
O fato de que a ciência não pode dar nenhum pronunciamento sobre os princípios éticos tem sido mal interpretado de modo a indicar que não existem tais princípios enquanto, de fato, a busca pela verdade pressupõe a ética.
No que diz respeito a desumanização, dois usos comuns para essa ação são usados: no primeiro deles desumanizar é privar-se das qualidades ou atributos humanos: no segundo, desumanizar é tornar-se mecânico e repetitivo e mecânico.
O conhecimento científico é desumanizador somente se aceitamos as concepções tradicionais nas quais aos seres humanos é concedido status central e privilegiado em relação a todos os outros seres da natureza.
Em contraste com a maioria dos psicólogos e leigos, os comportamentalistas afirmam que o que os organismos fazem é determinado por variáveis ambientais, genéticas e fisiológicas. Isto é verdade para todos os animais incluindo os humanos.
Nosso comportamento é determinado pelas mesmas classes de eventos que controlam o comportamento de outras classes de animais; por isso, não podemos argumentar pela unicidade humana na base da descontinuidade dos processos comportamentais.
A ciência nos despoja da ilusão, mas ela não torna a vida mecânica e repetida.
Crítica 3: Uma ciência do comportamento é fatalista
Determinismo não é o mesmo que fatalismo, que é o nome atribuído a doutrina filosófica de que todos os eventos são predeterminados pelo destino e por isso inalteráveis.
Da perspectiva fatalista, todos os eventos que ocorreram e todos os que ainda vão ocorrer são fixos e passíveis de previsão.
Da perspectiva modesta que a ciência proporciona, não existe nenhum relógio mundial, nenhuma seqüência pré-ordenada de eventos que se desvela. Existem, certamente, relações legais entre classes de eventos, e é o trabalho do cientista descobri-las e desvela-las. E quando elas são descobertas, essas relações são probabilísticas.
Em outras palavras, saber que um determinado organismo apresenta maior probabilidade de fazer uma determinada ação e não outra, não quer dizer que se pode prever, fatalmente (com fatalismo) de que ele o fará.
Saber que existe uma maior probabilidade de sairmos com guarda-chuva em um dia nublado, não quer dizer que sairemos. Ou seja, um individuo, isoladamente, não será descrito como estando fadado – pelo destino – a seguir esta ou aquela direção.
Um dos objetivos dos psicólogos comportamentais é justamente o contrário – dar mais opções de comportamento, ampliar o que o ser humano pode fazer, para que, tendo mais opções, ele faça a melhor escolha no momento apropriado.
Muito bom,explica as maiores dúvidas referentes a psicologia comportamental,em um de seus livros Skinner explica a todas elas.Acho que o nome é Entendendo o behaviorismo,ou algo do tipo…
Ótimo! Perfeito! Vai me ajudar muito,uma vez que tenho que entregar um relatório da atividade feita no laboratório(ratos).
Me desculpe mas essa explicação sobre a ética me parece muito pobre. Toda a ciência têm uma ética por trás de sua base filosófica e da mesma forma ter acesso a verdade é diferente de agir eticamente. Não existe conhecimento científico neutro, pois o mesmo é construído em uma cultura, por indivíduos e de acordo a interesses políticos.
Talvez o que Skinner apontou em seu livro “ciência do comportamento” fizesse sentido para a época, no entanto a neutralidade científica já é apontada claramente como ilusória. O grande problema de muitas ciências é a tentativa de se abster ou camuflar posicionamentos éticos, uma ciência do comportamento que pretende adotar qualquer uma das duas posturas é muito perigosa.
Também não vejo como a crítica do fatalismo foi defendida. Se você estabelece através de estudo de contingencias uma probabilidade de prever, descrever e controlar meu comportamento de 80% não se foge muito do fatalismo. O fato é que a maior parte das vezes você acerta meu comportamento futuro e erra pouco. Ainda sim estaria fadado a um destino que ocasionalmente varia.
Me pergunto inclusive como se pode acreditar que um cientista comportamental têm como objetivo ampliar meu repertório comportamental uma vez que a teoria não apresenta sua postura ética e o próprio behaviorista tem seu comportamento modelado pelas contingências, nada impede o behaviorista de utilizar seu conhecimento para extrair o máximo de proveito do paciente.
Olá!
Então, este texto é bastante antigo. Escrevi como resposta a uma questão de trabalho na época da faculdade. Concordo contigo que temos que esclarecer melhor os pressupostos éticos. O trabalho, seja na clínica ou em outro local, sempre pressupõe a ética.
Quanto à psicologia comportamental, sugiro fortemente a leitura do livro Walden Two.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
oi Felipe,
sera q vc ainda acessa aqui?
vc poderia me indicar alguma leitura que explicasse mais profundamente as criticas ao behavorismo?
Sou Doutoranda em comunicacao, e uso Morris (semiotica behavorista). Tem muito fundamento, mas preciso estar mais ciente das criticas do behavorismo…
vc teria essa fonte? (sorry pela falta de acentuacao, meu teclado esta nao formatado)
grata
Flavia
Olá Flavia,
Existem muitas críticas, essas foram levantadas pelo Skinner. Mas qualquer outra abordagem vai ter também as suas críticas. As do Young, da terapia do esquema, são também muito interessantes.
Ola felipe, eu tenho uma duvida onde nao encontro em lugar nenhum. Quais as perspectivas futuras do behaviorismo?
Olá Thais, existem muitas perspectivas. Muitas pesquisas são feitas até hoje com os principais conceitos. Também existe perspectivas que procuram reunir outros protocolos de intervenção, como o é o caso da psicologia cognitivo-comportamental e as outras “ondas” da tcc, como ACT (Terapia de Aceitação e Compromisso, Esquema, Mindfulness).
Professor Felipe, gostei muito do teu jeito, especial e sábia, de transmitir teus conhecimento. Parabéns pelo talento. Eu tenho 65 anos de idade sou tecnólogo e tenho formação teológica. Minha função como palestrante em assuntos teológicos e minhas atividades gerenciando uma empresa, quando trabalhava, estas funções sempre me serviram de motivação para ler artigos e alguns livros da área da psicologia portanto, o pouco conhecimento que tenho na referida matéria é de procedência de um autodidata, maneira nobre de dizer leigo, kkkkkk. Minha pergunta é; A dificuldade em se prever o comportamento de uma pessoa, ao receber um estímulo, não pode ser explicado pelo fato de o ser humano ser conduzido pelas imagens e crenças, desenvolvidas em suas mentes em todas as circunstâncias em que se envolve ( teoria das imagens e crenças) ?
Joel, olá!
Obrigado!
Bem, esta é uma resposta da psicologia cognitiva (crenças) que critica o behaviorismo.
Excelentes explicações.