Em meu Doutorado, estou estudando a autobiografia de C. G. Jung. É um livro interessantíssimo que vale a pena ler. Por exemplo, no capítulo em que descreve suas viagens ao redor do mundo, Jung encontra-se com um índio americano pueblo.
A partir deste contato que Jung sente ser um contato real (que quase nunca teve com um europeu), ele consegue ver o que representa a nossa sociedade industrial, colonialista, capitalista para alguém de fora:
O índio diz:
“Veja como é cruel o homem branco… Seus olhos tem uma expressão fixa. O que eles estão buscando? O homem branco sempre quer alguma coisa; eles estão sempre incomodados e inquietos. Nós não sabemos o que eles querem. Nós não o compreendemos. Nós pensamos que eles estão loucos”.
Jung então lhe pergunta porque ele achava que o homem branco estava louco.
– Eles dizem que pensam com a cabeça, responde o índio.
– Porque? Com o que você pensa? – pergunta Jung.
Nós pensamos aqui – diz o índio apontando o coração.
A partir desta experiência de Jung, podemos refletir:
– Porque estamos sempre inquietos? Sempre buscando algo?
– O que nós buscamos?
– Será que buscamos o essencial? O que realmente importa?
E por outro lado, é interessante saber que existem povos, ainda hoje, que conseguem realizar o indicado pelo Professor Henrique José de Souza: “Pensar com o coração e sentir com a mente”.
Referências: C. G. Jung. Memórias, Sonhos e Reflexões.
Felipe, bom dia!
O título do artigo me remeteu a uma coisa interessantíssima. Ano passado comecei a estudar chinês. Um dos ideogramas que compõem a palavra “pensar” é 思. Visto desmembrado, ele é composto por outros dois ideogramas: coração (心) e “caixa”, “cabeça” (é o quadradinho de cima, um espaço vazio que deve ser preenchido… não me lembro a tradução correta e, por isso, não consegui encontrar o ideograma); a questão é que, “pensar”, em chinês, deve ser algo que parte de baixo, do coração, em direção à mente. Para confirmar, enviei para um senhor chinês que conheço e ele disse que está correto (apesar de nunca haver reparado neste detalhe). Belo, não? Um simples ideograma me ensinou uma lição muito profunda…
Olá Pablo!
Que interessante!
Adora estas pontes com a antropologia e com outras línguas. Há um tempo atrás comecei também a estudar chinês e japonês, porém desisti justamente por esta questão dos ideogramas, rsrs. Mas me parece ser fantástico mesmo!
Estou lendo um livro do Jung para o Doutorado, Estudos Alquímicos, no qual ele analisa um texto alquímico chinês, o Segredo da Flor de Ouro, com Richard Wilhelm (que traduziu o I Ching). Ele frequentemente cita estas relações como você fez e é incrível ver como a linguagem é verdadeiramente o limite do nosso mundo.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
sensacional… assim que eu instalar a internet farei alguns cursos com voce..