A linguagem humana é algo maravilhoso mas também  provoca grandes mal-entendidos. Vou escrever nos próximos dias uma série de textos sobre a parte Linguística contida no termo Programação Neuro-linguística.

Diversos estudos apontam que na comunicação oral até 93% do que é comunicado não é o conteúdo da mensagem. O conteúdo – o significado das palavras – constitui apenas 7% da comunicação. Portanto, a maior parte da comunicação é feita de gestos e expressão corporal juntamente com a emoção colocada na fala.

Por este motivo, é muito importante a congruência (harmonia) entre o que falamos e o modo como falamos. Um exemplo de incongruência: pessoas que falam coisas que seriam para o bem (supostamente) mas usando um tom raivoso na voz. Quem escuta entende que o que está sendo dito não é para o bem.

Além disso, temos uma série de dificuldades inerentes à linguagem: distorções, generalizações e omissões. Falarei mais a frente detalhadamente sobre cada uma destas dificuldades.

Começo hoje descrevendo um forma de distorção muito comum: a relação de causa-efeito. O que isso quer dizer?

O modo mais fácil de explicar é com um exemplo, retirado do programa humorístico Chaves. Vocês devem se lembrar da famosa frase do personagem Kiko: – Cale-se! Cale-se! Você me deixa louco!!!

A frase implica que a outra pessoa o deixa louco (causa-efeito), como se ele mesmo não tivesse nenhuma opção ou escolha no processo. Ou o que é pior: ele não tem responsabilidade nenhuma pelo que eu sente, mas o outro tem!

Fazemos estas relações de causa-efeito muitas vezes. Quantas e quantas vezes damos  o poder dos nossos sentimentos aos outros!

Exemplos:

1) Fulano disse isso e me deixou triste.

2) O que o outro fez me deixou muito magoado.

3) Me irrita tanto isso que você faz!

4) Segunda-feira me deixa mal-humorado.

E os exemplos são muitos. É como se a outra pessoa apertasse um botão e eu ficasse com raiva, ficasse triste, magoado, enojado, irritado…

Um dos grandes objetivos da psicologia clínica é transformar este processo. Há um piadinha muito interessante desta relação de causa-efeito. O homem chega em uma mulher que é feminista radical em uma festa e lhe diz:

– E ai gatinha? Vamos dar uma volta?

Isso desperta nela (causa-efeito) uma série de emoções negativas que estraga a sua noite. A libertação feminina, neste caso, virou apenas uma ideia. O homem ainda controlava o comportamento da mulher. De outra forma, mas controlava.

Comece a ficar atento nesta distorção de causa-efeito em sua vida. Se alguém lhe diz algo que você não gosta – ou discorda – para que se sentir mal? Para que deixar os outros controlarem o que você sente? De que outro modo você poderia ter reagido?

Pense nesta consideração de Gautama, o Buda: se alguém deseja dar um presente (maldade, ressentimento, frustração…) e a pessoa presenteada não aceita, com quem é que fica o presente?

FELIPE DE SOUZA