Conheça as diferenças entre o Transtorno Bipolar Tipo I e Tipo II e o Transtorno Depressivo.
Olá amigos!
Muitas pessoas não sabem, mas existem dois tipos de Transtorno Bipolar. Neste texto, vamos falar sobre a história do Transtorno Bipolar, da confusão que pode existir no diagnóstico com o Transtorno Depressivo e sobre a diferença entre o Transtorno Bipolar I e Transtorno Bipolar II.
Psicose Maníaco Depressiva
Muitas pessoas criticam o DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) – eu inclusive – pelo modo como ele foi e é criado e pela extensão de diagnósticos sem necessariamente uma comprovação da necessidade da distinção ou de uma fundamentação empírica razoável (como é o caso do TDAH).
Mas, querendo ou não, o DSM tem se mantido como a referência no Diagnóstico de Transtornos Mentais, para psicólogos e psiquiatras. Apesar de que devemos ter um olhar e uma visão crítica sempre, devemos também estudá-lo antes de criticá-lo. Até porque esta última versão, a 5°, foi bastante reformulada e ouviu as principais críticas dos profissionais da área.
Saiba mais – Curso DSM-5: Principais Modificações com relação ao DSM-IV
No caso do Transtorno Bipolar é importante saber que, até o DSM-III, ele não existia. Pacientes com sintomas semelhantes eram diagnosticados como paciente Psicótico Maníaco-Depressivo. Esta nomenclatura é bastante antiga e existe desde o início do século XX, com os trabalhos do famoso Kraepelin.
Portanto, foi somente a partir da década de 1980 que vimos surgir a denominação Transtorno Bipolar ou, mais precisamente, Transtorno Afetivo Bipolar.
Para compreendermos bem o Transtorno Bipolar, então, devemos entender que é um Transtorno que envolve a psicose e, igualmente, a mania e a depressão. No DSM-5, nós temos na própria estruturação dos capítulos uma ordem que vai do extremo da psicose até o outro extremo da depressão.
– Espectro da Esquizofrenia e Outros Transtornos Psicóticos
– Transtorno Bipolar e Transtornos Relacionados
– Transtornos Depressivos
Deste modo, vemos que os primeiros (esquizofrenia) são o extremo da psicose e representam os quadros com pior prognóstico, ou seja, há uma tendência maior de que o paciente não melhore. E o prognóstico melhora no Transtorno Bipolar e as perspectivas são ainda melhores quando há apenas um Transtorno Depressivo, e nenhum sintoma de mania ou hipomania envolvido.
Isto não significa, é claro, que um paciente esquizofrênico não possa melhorar e viver com qualidade, mas, no grupo em que está inserido, as probabilidades são menores se compararmos com outros grupos. E, na outra ponta, isto também não significa que um Transtorno Depressivo, “apenas”, não possa ser devastador. Quando dizemos que há um prognóstico melhor na depressão, um pouco pior no Transtorno Bipolar e pior nos Transtornos do Espectro da Esquizofrenia estamos apenas falando na média – e de acordo com os nossos conhecimentos até hoje e com os recursos de tratamento disponíveis.
Dito isto, fica mais fácil de entender que o Transtorno Bipolar possui características do grupo das esquizofrenia e características do grupo da depressão. Por isso, o seu nome anterior era psicose maníaco-depressiva.
Vamos aos critérios diagnósticos no DSM-5 para o Transtorno Bipolar I e Transtorno Bipolar II
Transtorno Bipolar I
Critérios Diagnósticos
Para diagnosticar transtorno bipolar tipo I, é necessário o preenchimento dos critérios a seguir para um episódio maníaco. O episódio maníaco pode ter sido antecedido ou seguido por episódios hipomaníacos ou depressivos maiores.
Episódio Maníaco
A. Um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável e aumento anormal e persistente da atividade dirigida a objetivos ou da energia, com duração mínima de uma semana e presente na maior parte do dia, quase todos os dias (ou qualquer duração, se a hospitalização for necessária).
B. Durante o período da perturbação do humor e aumento da energia ou atividade, três (ou mais) dos seguintes sintomas (quatro se o humor é apenas irritável) estão presentes em grau significativo e representam uma mudança notável do comportamento habitual:
1. Autoestima inflada ou grandiosidade;
2. Redução da necessidade do sono (p. ex, sente-se descansado com apenas três horas de sono).
3. Mais loquaz que o habitual ou pressão para continuar falando.
4. Fuga de ideias ou experiência subjetiva de que os pensamentos estão acelerados.
5. Distratibilidade (i.e., a atenção é desviada muito facilmente por estímulos externos insignificantes ou irrelevantes), conforme relatado ou observado.
6. Aumento da atividade dirigida a objetivos (seja socialmente, no trabalho ou escola, seja se-xualmente) ou agitação psicomotora (i.e., atividade sem propósito não dirigida a objetivos).
7. Envolvimento excessivo em atividades com elevado potencial para conseqüências dolorosas (p. ex., envolvimento em surtos desenfreados de compras, indiscrições sexuais ou investimentos financeiros insensatos).
C. A perturbação do humor é suficientemente grave a ponto de causar prejuízo acentuado no funcionamento social ou profissional ou para necessitar de hospitalização a fim de prevenir dano a si mesmo ou a outras pessoas, ou existem características psicóticas.
D. A perturbação do humor não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex, droga de abuso, medicamento, outro tratamento) ou a outra condição médica.
Nota: Um episódio maníaco completo que surge durante tratamento antidepressivo (p. ex., medicamento, eletroconvulsoterapia), mas que persiste em um nível de sinais e sintomas além do efeito fisiológico desse tratamento, é evidência suficiente para um episódio maníaco e, portanto, para um diagnóstico de transtorno bipolar tipo I.
Nota: Os Critérios A-D representam um episódio maníaco. Pelo menos um episódio maníaco na vida é necessário para o diagnóstico de transtorno bipolar tipo I.
Episódio Hipomaníaco
A. Um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável e aumento anormal e persistente da atividade ou energia, com duração mínima de quatro dias consecutivos e presente na maior parte do dia, quase todos os dias.
B. Durante o período de perturbação do humor e aumento de energia e atividade, três (ou mais) dos seguintes sintomas (quatro se o humor é apenas irritável) persistem, representam uma mudança notável em relação ao comportamento habitual e estão presentes em grau significativo:
1. Autoestima inflada ou grandiosidade.
2. Redução da necessidade de sono (p. ex., sente-se descansado com apenas três horas de sono).
3. Mais loquaz que o habitual ou pressão para continuar falando.
4. Fuga de ideias ou experiência subjetiva de que os pensamentos estão acelerados.
5. Distratibilidade (i.e., a atenção é desviada muito facilmente por estímulos externos insignificantes ou irrelevantes), conforme relatado ou observado.
6. Aumento da atividade dirigida a objetivos (seja socialmente, no trabalho ou escola, seja se-xualmente) ou agitação psicomotora.
7. Envolvimento excessivo em atividades com elevado potencial para conseqüências dolorosas (p. ex., envolvimento em surtos desenfreados de compras, indiscrições sexuais ou investimentos financeiros insensatos).
C. O episódio está associado a uma mudança clara no funcionamento que não é característica do indivíduo quando assintomático.
D. A perturbação do humor e a mudança no funcionamento são observáveis por outras pessoas.
E. O episódio não é suficientemente grave a ponto de causar prejuízo acentuado no funcionamento social ou profissional ou para necessitar de hospitalização. Existindo características psicóticas, por definição, o episódio é maníaco.
F. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento, outro tratamento).
Nota: Um episódio hipomaníaco completo que surge durante tratamento antidepressivo, mas que persiste em um nível de sinais e sintomas além do efeito fisiológico desse tratamento, é evidência suficiente para um diagnóstico de episódio hipomaníaco. Recomenda-se, porém, cautela para que 1 ou 2 sintomas (principalmente aumento da irritabilidade, nervosismo ou agitação após uso de antidepressivo) não sejam considerados suficientes para o diagnóstico de episódio hipomaníaco nem indicativos de uma diátese bipolar.
Episódio Depressivo Maior
A. Cinco (ou mais) dos seguintes sintomas estiveram presentes durante o mesmo período de duas semanas e representam uma mudança em relação ao funcionamento anterior; pelo menos um dos sintomas é (1) humor deprimido ou (2) perda de interesse ou prazer.
Nota: Não incluir sintomas que sejam claramente atribuíveis a outra condição médica.
1. Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, conforme indicado por relato subjetivo (p. ex., sente-se triste, vazio ou sem esperança) ou por observação feita por outra pessoa (p. ex., parece choroso). (Nota: Em crianças e adolescentes, pode ser humor irritável.)
2. Acentuada diminuição de interesse ou prazer em todas, ou quase todas, as atividades na maior parte do dia, quase todos os dias (conforme indicado por relato subjetivo ou observação feita por outra pessoa).
3. Perda ou ganho significativo de peso sem estar fazendo dieta (p. ex., mudança de mais de 5% do peso corporal em um mês) ou redução ou aumento no apetite quase todos os dias. (Nota: Em crianças, considerar o insucesso em obter o ganho de peso esperado)
4. Insônia ou hipersonia quase diária.
5. Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observável por outras pessoas; não meramente sensações subjetivas de inquietação ou de estar mais lento).
6. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias.
7. Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada (que podem ser delirantes) quase todos os dias (não meramente autorrecriminação ou culpa por estar doente).
8. Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, ou indecisão quase todos os dias (por – relato subjetivo ou observação feita por outra pessoa).
9. Pensamentos recorrentes de morte (não somente medo de morrer), ideação suicida recorrente sem um plano específico, tentativa de suicídio ou plano específico para cometer suicídio.
Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância ou a outra condição médica.
Transtorno Bipolar Tipo II
Para diagnosticar transtorno bipolar tipo II, é necessário o preenchimento dos critérios para um episódio hipomaníaco atual ou anterior e os critérios para um episódio depressivo maior I atual ou anterior.
Diagnóstico Diferencial
O diagnóstico de transtorno bipolar tipo I diferencia-se do de transtorno bipolar tipo II pela presença de algum episódio anterior de mania. Outro transtorno bipolar e transtornos relacionados especificado ou transtorno bipolar e transtornos relacionados não especificado devem ser diferenciados dos transtornos bipolar tipo I e tipo II, considerando-se se os episódios com sintomas maníacos ou hipomaníacos ou os episodios com sintomas depressivos preenchem plenamente ou não os critérios para aquelas condições.
Conclusão
No DSM-5, existem dois tipos básicos de Transtorno Bipolar. O tipo I inclui um episódio de mania, enquanto que o tipo II há a ausência da mania. Conforme comentei no início, o Transtorno Bipolar possui sintomas que são do que podemos chamar de psicose e sintomas do que podemos chamar de depressão.
A diferença entre mania e hipomania não é tão grande como poderíamos esperar. Em tese, consiste na intensidade dos sintomas que, por sua vez, vão ou não afetar o funcionamento em diversas áreas da vida.
Em geral, existe mais confusão no diagnóstico com relação à depressão. Isto porque se avaliarmos um paciente com Transtorno Bipolar quando estiver passando por episódios depressivos será muito fácil o diagnóstico como Transtorno Depressivo Maior.
Assim, se o paciente tiver sido avaliado nesse período, o diagnóstico pode mudar caso, em momentos futuros, ele atravesse episódios maníacos ou hipomaníacos (estes episódios não estão presentes no Transtorno Depressivo Maior).
Dúvidas, sugestões, comentários, por favor, comente abaixo.
Oi, meu nome é Sandra, moro em Juiz de Fora, MG, sou formada em Direito e exerço a profissão como advogada há mais de 20 anos, pois tenho 43 anos de idade e formei com 23 anos. Gostei muito do conteúdo de seu trabalho, tendo em vista que percebo uma dificuldade muito grande dos médicos, mesmo os neurologista e psiquiatras em lidar com as doenças mentais e dificuldade em precisar os diagnósticos. Como profissional do Direito tive a oportunidade de lidar com diversos tipos de pessoas e pude verificar pessoas que sofrem para se adaptar no meio em que vivem, pessoas com problemas sérios de drogAS legais e ilegais, enfim , cheguei a trabalhar com vários casos de curatela de doentes mentais e obtive séria experiência neste setor. Achei o seu trabalho detalhado e sério, acho muito importante o esclarecimento para a busca de caminhos de tratamento e cuidados mais evoluídos e eficazes. Tive experiências pessoais, pois minha mãe mora comigo e sofre de mal de alzheimer, ela apresentava diversos transtornos de ordem mental desde muito nova, ainda fui casada com uma pessoa que apresentava sintomas de bipolaridade. Recentemente sofri de pânico e TAG, e hoje faço terapia cognitiva comportamental. Parabéns pelo trabalho. Até mais.
Obrigado Sandra!
Será sempre um prazer contar com sua participação aqui em nosso site! :)
Olá Felipe, observei que os critérios do episódio maníaco estão idênticos aos do hipo… acredito que foi um problema na edição do texto!
Abraço
Olá Lucas,
O texto está correto sim. O que eu frisei em itálico e com letra maior é o que diferencia o episódio maior do menor. Os critérios são praticamente os mesmos, o que varia é a intensidade. Pense a mania como maior em intensidade do que a hipo-mania.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Oi Felipe,
Bom dia!
Adoro seus textos e adoro o assunto!
Tenho uma irmã psicóloga e psicanalista com um consultório lotado… Então, tiro dúvidas, e informo-me, por outras fontes também.
Já fiz análise por aluns anos, Lacaniana. Se todos soubessem como e bom…
Obrigada pelo trabalho!
Abraços,
Otília
Não sei se posso ajudar em algum estudo de vcs mas gosto muito de ler assuntos de psicologia e psiquiatria pois adoro estudos sobre os comportamentos mentais normais e aqueles que defino como “anormais”, que são aqueles que não estão em ordem harmônica ou digamos assim, dentro dos padrões da normalidade, é mais ou menos isso que estou tentando dizer !!! Francisco de Assis- Jaboatão/PE.
Oi Felipe, ótimas as aulas :D Obrigada!
Tenho uma dúvida, como eu referencio o DSM V?
Oi Elaine!
Você pode citar da seguinte forma: (DSM-5, p. 624). Dependendo de onde for citar, também é bom colocar a data da publicação antes da página, ok?
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Oi Dr. Felipe gosto muito de suas explicações e textos. Queria muito uma indicação de um curso em saúde mental e que englobe a abordagem psicanalítica. Em São Paulo com duração de um ano. Sou psicóloga e pretendo me especializar mais. Muito grata um abraço.
.
Olá Dulce!
Infelizmente não saberei te indicar um curso com este molde.
Veja aqui algumas dicas de como pesquisar no google, pois isto pode ser útil para você achar o que deseja:
https://psicologiamsn20220322.mystagingwebsite.com/2014/12/meus-pais-e-minha-familia-nao-querem-que-eu-faca-psicologia.html
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Existe diferença entre Transtorno de Ansiedade Generalizada – TAG com episódios depressivos crônicos e Transtorno Bipolar?
Grata.
Olá Tônia!
Sim.
Professor Felipe poderia me cexplicar basicamente a diferença? Grata.
Olá Tônia,
É só você ler com calma o texto, ok?
Abçs
Os sintomas se parecem muito com os do mal funcionamento da tireóide. Eles poderiam estar relacionados? Quem tem hipotireoidismo é portador de transtorno bipolar? Um seria a causa do outro?
Fui diagnosticada a cinco anos com hipotireoidismo e lendo o texto fui me reconhecendo nele, tomo Puran T4 50 e não sinto nenhuma melhora. Sinto muito medo de terminar os meus dias com problemas mentais. Eu tenho 49 anos e acabei de entrar na menopausa.
Rosilda, pelo que sei, pode existir uma comorbidade (duas doenças simultâneas). A preocupação, em minha opinião, deve ser direcionada ao cuidado. Cuidar de si, fazer consultas e avaliações com frequência, com bons profissionais ok. Abraços
Olá, Prof. Felipe! Fui diagnosticado como bipolar há 5 anos, tomo medicação e estou parcialmente estabilizado. Ainda sinto , de vez em quando uma certa euforia. Mas o que me encuca mais é em determinados momentos eu não lembro de certas atitudes. As pessoas não acreditam muito. O psiquiatra diz que é do Distúrbio. Um exemplo, eu tenho plena consciência quando entro numa loja para comprar algo, lembro até aí. Depois quando volto a realidade já comprei vários do mesmo item que pretendia comprar. São vários mesmo. Tipo 5, 6 camisas iguais. Mas sinceramente não lembro deste “espaço ” ir ao caixa , digitar senha do cartão e tudo mais. É muito complicado para mim. Isso acontece também com os relacionamentos, vou embora de um restaurante que estou com amigos, digo coisas que magoam as pessoas, mas não lembro absolutamente de nada deste momento. Apenas sei porque me contam ou então quando volto a realidade vejo a quantidade de compras que fiz. Realmente isso é um sintoma da bipolaridade ou tenho outro transtorno? Obrigado.
Sim Rogério. É bem provável que seja um sintoma. O importante é ficar atento ao que está acontecendo e conversar com as pessoas próximas sobre, ok? É muito útil também ter um profissional de confiança para te acompanhar e tirar suas dúvidas. Felicidades pra ti! :)
boa noite.
eu gostaria de saber onde conseguir ajuda psiquiátrica pelo sus no rj,
Olá Carolina,
Neste caso, você pode se informar em qualquer setor da prefeitura, como postos de saúde, hospital sobre como é o procedimento.
muito boa as suas explicações e fundamentos científicos para oficializar tal postagem, obgada querido pelas colocações e ajudam em muito a sociedade esclarecer em muito essa indiferença com esta profissão tao importante na sociedade.
Pessoa com grau II. de bipolar pode trabalhar normalmente ou nao
Sim Márcia.