O DSM-5 já lista em seu longo levantamento de transtornos mentais o que chama de Transtorno do Jogo pela Internet. Saiba mais sobre o que é, os critérios diagnósticos, prevalência, fatores de risco e consequências.
Importante notar que este Transtorno está na seção do DSM-5 está na seção de condições que exigem estudos posteriores, ou seja, instiga-se que pesquisadores venham a estudar com mais profundidade sobre o tema (para quem não sabe, o DSM é o Manual Diagnóstico e Estatístico utilizado por médicos, psiquiatras e psicólogos).
Então, veremos o que já foi definido pelos especialistas que foram “informados por revisão de literatura, reanálise de dados e resultados dos ensaios de campo, quando disponíveis – e se propõe a oferecer uma linguagem comum para pesquisadores e clínicos interessados em estudar tais transtornos” (DSM-5, p. 783).
Veja também – Curso em vídeo sobre o DSM-5
Transtorno do Jogo pela Internet (critérios propostos)
Uso persistente e recorrente da internet para envolver-se em jogos, frequentemente com outros jogadores, levando a prejuízo clinicamente significativo ou sofrimento conforme indicado por cinco (ou mais) dos seguintes sintomas em um período de 12 meses:
1) Preocupação com jogos pela internet. (O indivíduo pensa na partida anterior do jogo ou antecipa a próxima partida; o jogo pela internet torna-se a atividade dominante na vida diária).
Nota: Este transtorno é distinto dos jogos de azar pela internet, que estão inclusos no transtorno de jogo.
2) Sintomas de abstinência quando os jogos pela internet são retirados. (Esses sintomas são tipicamente descritos como irritabilidade, ansiedade ou tristeza, mas não há sinais físicos de abstinência farmacológica).
3) Tolerância – a necessidade de passar quantidades crescentes de tempo envolvidos nos jogos pela internet.
4) Tentativas fracassadas de controlar a participação nos jogos pela internet.
5) Perda de interesse por passatempos e divertimentos anteriores em consequência dos, e com a exceção dos, jogos pela internet.
6) Uso excessivo continuado de jogos pela internet apesar do conhecimento dos problemas psicossociais.
7) Enganou membros da família, terapeutas ou outros em relação à quantidade de jogo pela internet.
8) Uso de jogos pela internet para evitar ou aliviar o humor negativo (p. ex, sentimentos de desamparo, culpa, ansiedade)
9) Colocou em risco ou perdeu um relacionamento, emprego ou oportunidade educacional ou de carreira significativa devido à participação em jogos pela internet.
Nota: Somente os jogos pela internet que não são de azar estão inclusos neste transtorno. O uso da internet para atividades requeridas em um negócio ou profissão não está incluso; nem é pretendido que o transtorno inclua outro uso recreacional ou social da internet. Igualmente, os sites adultos estão excluídos.
Especificar a gravidade atual:
O transtorno do jogo pela internet pode ser leve, moderado ou grave, dependendo do grau de perturbação das atividades normais. Os indivíduos com transtorno do jogo pela internet menos grave podem exibir menos sintomas e menor perturbação em suas vidas. Aqueles com a forma grave do transtorno terão mais horas passadas no computador e perda mais grave de relacionamentos ou oportunidades na carreira ou escola. (DSM-5, p. 796).
Prevalência
A prevalência do transtorno do jogo pela internet não está clara, devido aos variados questionários, critérios e limiares empregados, mas parece ser mais alta em países asiáticos e em adolescentes do sexo masculino entre 12 e 20 anos.
Fatores de risco
Ambientais: a disponibilidade do computador com conexão à internet permite o acesso aos tipos de jogos com os quais o transtorno do jogo pela internet está mais frequentemente associado.
Genéticos e ambientais: Adolescentes do sexo masculino parecem ter maior risco de desenvolvimento do transtorno do jogo pela internet, e tem sido especulado que a origem ambiental e/ou genética asiática é outro fator de risco, mas isso ainda não está claro.
Consequências do transtorno
O transtorno do jogo pela internet pode levar a fracasso escolar, perda de emprego ou fracasso conjugal. O comportamento do jogo compulsivo tende a desestimular atividades sociais, escolares e familiares normais. Estudantes podem apresentar declínio nas notas e, por fim, fracasso na escola. As responsabilidades familiares podem ser negligenciadas.
Diagnóstico diferencial
O uso excessivo da internet que não envolve os jogos on-line (p. ex, uso excessivo das mídias sociais, como o Facebook; assistir a sites adultos) não é considerado análogo ao transtorno do jogo pela internet, e pesquisas futuras sobre os demais usos excessivos da internet precisariam seguir diretrizes similares, conforme aqui sugerido. Os jogos de azar excessivos on-line podem se qualificar para um diagnóstico separado de transtorno de jogo. (DSM-5, p. 797-798)
Conclusão
Conforme vimos no início, o Transtorno do Jogo pela internet ainda está em estudo. O objetivo da descrição acima é criar um conceito de Transtorno que seja padrão para que tais estudos de campo e laboratorias avancem e cheguem a conclusões mais precisas.
Em certo sentido, é curioso que o uso excessivo da internet, por exemplo, para acessar as redes sociais exija a elaboração de um outro critério diagnóstico. Entretanto, me parece que a elaboração primeira do Transtorno do Jogo pela internet se deve a casos extremamente graves nos quais o adolescente morre depois de ficar 3, 4 dias sem dormir e comer, apenas jogando os jogos.
Evidente que tais casos são casos extremos, porém, nos países asiáticos, mas também nos EUA, Europa e no Brasil, encontramos casos de pessoas que poderiam se beneficiar com uma maior clareza do conceito e, especialmente, de um tratamento eficaz para o que podemos chamar de dependência.
Parabéns pelo texto! Bastante ilustrativo e importante, pois percebe-se que cada vez mais as pessoas se envolvem com jogos na internet e deixam de conviver com a família, com os amigos, desenvolvendo um comportamento igual a qualquer dependente de droga.
Verdade Anissis!
Um dos pontos que acho importante a se considerar é a dificuldade (ou quase impossibilidade) de ficar sem o jogo – ou a internet – por períodos curtos de tempo.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
É bom ressaltar que não só jogos no computador, mas tudo em excesso na vida faz mal!
Se não me engano, foi Aristóteles que falou que viver com sabedoria é buscar um equilíbrio em tudo o que fazemos.
Espero encarecidamente que após isto meus colegas psicólogos não queiram tratar do vício de seus pacientes de maneira genérica.
Peço que conheçam os seus pacientes e também conheçam os seus vícios, o DSM é útil neste auxílio, mas não se limitem apenas as classificações do mesmo. Saibam que até mesmo os jogos eletrônicos são diferentes entre si e por sua vez podem ter efeitos variados.
O maior conselho que posso dar a meus colegas é que se seus pacientes gostarem de um livro, leiam! Gostarem de um filme, assistam! Gostarem de um jogo, pelo menos conheçam! Não se limitem ao DSM, utilizem seus conhecimentos em psicologia para entender como isto funciona na mente de cada paciente.
Obrigado a quem tiver dado atenção, e espero que todos utilizem isto de maneira consciente.
Olá Simão!
Evidentemente!
Como informo no texto, a terminologia ainda está sendo construída e precisa de mais pesquisas. O objetivo não é culpabilizar ou criar um preconceito contra os jogos (sejam eles quais forem). Mas é importante notar que estão começando a aparecer diversos casos de jovens que tem morrido jogando. Parece uma piada, mas não é.
Portanto, é algo que tem que ser mais investigado e, nos casos em que houver necessidade, tratado.
Em todo e qualquer transtorno listado no DSM leva-se em conta o sofrimento, se é ou não clinicamente significativo e se afeta outras áreas do sujeito (família, trabalho, estudo).
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Infelizmente, esse transtorno é um grande problema, em um relacionamento. Eu sou casada há 12 anos, e infelizmente até hj eu não consegui fazer meu esposo deixar esse vício. Hoje ele tem 34 e temos um filho de 3 anos d idade, ele não quer saber de ter responsabilidade. Ele é formado em contabilidade, e não exerce a profissão. Hoje está em casa sem trabalhar, e passa o dia todo sentado em frete do computador jogando, isso é o dia todo jogando. Hj infelizmente já não sei mais o q devo fazer, ele não aceita que é um viciado em jogos em redes social. Eu converso praticamente todos os dias, com ele, sobre esse vício, mas infelizmente acaba sendo uma conversa, sem sucesso…..
Muito bom o comentário e eu adoro jogar vídeo games tenho 37 anos de idade e até hoje jogo os games, e sim é um vicio por exemplo tenho um Xbox e no momento estou jogando FIFA 15 e sim penso no jogo muitas vezes quando não estou jogando, e esse post caiu como uma luva.
Obrigado pelo comentário vai ser de grande valia para mim.
Pretendo fazer mais uma faculdade e claro vai ser de psicologia, continuarei acompanhando o blog.
Olá, este tema é muito atual, pois tem sido recorrente as queixas das famílias do isolamento social promovido pelas inúmeras horas gastas com o jogo. O que pode ser feito ? Divulgar essas pesquisas e alertar de sobre sua classificação como transtorno, com consequências para a pessoa e seu ambiente familiar.