No consultório de psicologia é muito comum vermos pessoas sofrendo com mentiras de namorados, maridos, amigos, parentes. E, ainda que o sofrimento exista e seja real, pode ser tratado. Também é interessante entender porque as pessoas – e nós – mentimos, pois esta é uma das formas de superar as traições, omissões, falsidades e mentiras.
Todo mundo mente?
Bem, precisamos começar compreendendo que todas as pessoas mentem. Crianças quando aprendem a falar, mentem. Idosos e adultos, eu e você também mentimos. Mas por que? Qual é a causa para haver tanta mentira no mundo?
Segundo os dicionários, mentir é dizer algo contrário à verdade, é emitir um juízo, uma sentença falsa. Embora seja bom começarmos dizendo que todos mentem, é igualmente importante falar que isto não quer dizer que seja algo bom, ético e que vá conduzir à felicidade. Logo mais, neste mesmo texto, falaremos sobre a mentira patológica.
Por que as pessoas mentem?
Imagine uma cena, o namorado chega na casa da namorada para saírem. Ao provar a melhor roupa, ela diz:
– Amor, estou gorda?
Existem algumas respostas possíveis e pode ser realmente verdade que ela não está gorda. Mas digamos que esteja, que ela tenha engordado alguns quilos.
O namorado, então, pode dizer:
– Sim, você está gorda (Verdade)
– Não, você não está gorda (Mentira)
As duas respostas, caso ela esteja um pouco mais gordinha, será estranha já que é comum que mesmo que a resposta seja que não está gorda, a mulher desconfie. E brigue. Se ouvir a verdade, poderá também começar uma discussão.
Mas nos poucos segundos que tem entre a pergunta e a resposta, digamos que o namorado decida mentir. Por que ele faria isto?
Dado o histórico de comportamentos dela, ele rápido avaliaria que a melhor resposta é: “- Não, você não está gorda” pois desta forma ela – mesmo desconfiada – mudará de assunto e não se sentirá ofendida, evitando assim maiores problemas.
Ora, o objetivo da mentira é sempre este: evitar uma resposta negativa, uma resposta aversiva.
A pessoa que mente pensa que é melhor, mais vantajoso dizer uma inverdade do que dizer a verdade. A verdade é sentida como algo que provocará uma resposta pior e desfavorável. Esta é a causa das mentiras.
Tente pensar nos momentos em que você ouviu ou disse: – “Mas porque você não me disse a verdade?”
O vídeo abaixo, engraçadíssimo, é um exemplo do que falamos:
Como saber quando alguém está mentindo?
Como no vídeo acima, do canal Porta dos Fundos no youtube, podemos descobrir sim se alguém está mentindo. É mais fácil reconhecer quando conhecemos bem, quando temos proximidade com a pessoa em questão, pois deste modo, conseguiremos fazer a diferença entre o jeito que a pessoa diz a verdade e o jeito que a pessoa mente.
Porém, algumas pessoas desenvolvem uma grande capacidade de mentir e passar desapercebida. Neste caso, dificilmente se pode notar a diferença.
Em alguns momentos, como no exemplo da pergunta da namorada se está ou não gorda, até é provável que se perceba a mentira, mas talvez a pessoa escolha, prefira ouvir uma pequena mentira do que a verdade.
Esta fato também nos interessa, pois qual seria o motivo de alguém preferir a mentira ao invés da verdade?
Quando isto acontece, é bom lembrar que o comportamento de quem está mentindo tem probabilidade de aumentar, já que a resposta à mentira é melhor recebida. Ou seja, os dois sabem sobre a verdade, os dois fingem que esta é a melhor resposta.
E quem mente o tempo todo? Pseudolalia ou Mentira patológica
Podemos dividir o mentiroso patológico em dois grupos:
1) a pessoa que mente com uma alta frequência mas não acredita nas suas mentiras;
2) a pessoa que mente frequentemente mas acredita que as suas mentiras são verdades.
O fato de acreditar ou não no que se diz é a grande diferença. No primeiro tipo, a pessoa mente por sua própria história de reforçamento, ou seja, pelas experiências pessoas que teve e lhe fizeram crer que mentir é melhor, na maior parte dos casos, do que dizer a verdade. Em outras palavras, a pessoa foi mais premiada ao mentir do que dizer a verdade.
No segundo tipo, há um indício de doença mental, pois acreditar fielmente em suas próprias mentiras pode significar um distúrbio psicológico grave. Entretanto, para sabermos ao certo se a pessoa possui uma doença e qual forma de doença é, precisamos fazer uma avaliação psicológica e psiquiátrica para fecharmos um diagnóstico.
Conclusão
A mentira é comum, está por toda a parte e é dita milhares de vezes ao nosso redor e, talvez, por nós mesmos. O que não quer dizer, claro, que é algo a ser louvado. Dizer que está tudo bem quando encontramos um conhecido na rua (quando na verdade tudo está a ir mal) é uma mentira pequena, quase sem consequências. Outra coisa, é mentir em um relacionamento próximo, como nos casos de traição.
O filósofo Immanuel Kant pensava que a mentira nunca, em nenhum caso, deve ser dita. Pois, de acordo com ele, não devemos fazer nada que não gostaríamos que o outro fizesse conosco. De forma a agir como se, agindo do melhor modo, o outro também pudesse fazer o mesmo.
Ele dá um exemplo, no livro A Crítica da Razão Prática, no qual um amigo é perseguido. Sabemos aonde ele está e ao sermos questionados sobre o paradeiro do amigo por seu perseguidor, devemos dizer a verdade, pois isto é o correto a fazer.
Ou seja, entregamos o amigo para o inimigo dele, porque dizer a verdade é o que é certo fazer em todos os casos. O que ele argumenta é que devemos agir eticamente, não importando a consequência que o nosso ato tenha. Não vamos agir para parecermos bons aos olhos alheios, nem vamos agir mal por influência de alguém ou para nos livrarmos de um incômodo.
A mentira está através do caráter de cada ser humano, pois se eu tenho caráter e não gosto de mentira porque devo mentir? Antes de querer cobrar deve ser exemplo, pensar antes de falar para não magoar, pois toda ação tem uma reação.
Olá Angélica!
Obrigado por comentar!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Eu gostei da publicação sobre a mentira. Muito bem escrita e sucinta. Parabéns ao autor! Li um artigo muito interessante que gostaria de recomendar aos interessados no tema: http://www.psychologytoday.com/articles/199704/the-truth-about-lying
Obrigado Rafaela!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Boa noite…sou estudante de Psicologia e quero fazer meu tcc baseado em mentiras sociais, e me interessei muito pelos artigos a respeito das mentiras…queria questionar a respeito do exemplo utilizado da menina que pergunta ao namorado…Você coloca como se fosse o certo mentir nessa situação mas não diz a causa caso ela descubra a mentira…acho interessante abordar esse lado das consequências que a mentira possa trazer se descoberta mesmo tendo uma finalidade “boa”.
Olá Valter,
Neste texto eu falo um pouco sobre as consequências de longo prazo de mentir:
http://www.psicologiamsn.com/2015/04/mentira-tem-perna-curta-e-melhor-nao-mentir.html
Eu acho que, além da importância da honestidade, existem modos e modos de dizer uma verdade, rs.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Até hoje não consigo conviver com mentira. Acredito que exista um medo por trás desta ferramenta, utilizada hoje em dia por muitas pessoas, esse medo está aliado à falta de coragem em enfrentar a situação e a crítica do outro em relação às suas atitudes.